AMAN75-83
O tema é: Brasil em perigo

EXÉRCITO DE CALABAR

Por: JOSÉ GOBBO FERREIRA CEL

Em: 27 de DEZEMBRO de 2022

Sou coronel veterano do Exército Brasileiro. Nele prestei meu compromisso perante a Bandeira Nacional de “Dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra, integridade e instituições defenderei com o sacrifício da própria vida”. Além disso, naquele tempo aprendi e guardei que, além do amor à Pátria, as virtudes inegociáveis dos militares eram a Verdade, a Lealdade, a Probidade e a Responsabilidade.

Construí minha carreira absolutamente fiel a todos esses compromissos. Neste mês completei sessenta anos de minha formatura como oficial do Exército de Caxias. Rememorando, lembro-me quando tenente, servindo em Juiz de Fora, atendi ao chamado do Gen. Mourão para participar da Contrarrevolução de 1964. Recebi a missão de partir duas horas à frente da tropa, o Destacamento Tiradentes, penetrar em território até então “inimigo” com uma dúzia de soldados, para ocupar um posto de gasolina em Areal, que serviria para o reabastecimento das tropas que desceram de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.

É que os comunistas ensaiavam mais uma tentativa de tomada do poder, com perturbações da ordem e um ambiente de insubordinação nas FFAA. O povo, principalmente senhoras, realizaram na cidade do Rio de Janeiro a marcha da Família com Deus pela Liberdade e nós, os soldados de Caxias, a comando do General Mourão (que nem sequer tinha quatro estrelas), atendemos às suas ordens. E vencemos mais uma vez.

Hoje, o povo patriota não se limitou a UMA marcha em UMA cidade. Há quase 60 dias se aglomera aos milhares na porta de quartéis no Brasil inteiro pedindo, quando deveriam ordenar, às Forças Armadas que tomem uma providência para impedir o comunismo de conquistar finalmente nosso País, desta vez sem precisar disparar um tiro sequer.

Tomei conhecimento, como sendo do Ministro da Defesa, de uma publicação em que se lê: “É lamentável constatar que, na atual crise que o País atravessa, vozes dissonantes se ergam para fomentar a desavença e a desunião no seio das Forças Armadas!

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O momento atual exige a preservação dos pilares básicos de nossa Instituição, a Hierarquia e a Disciplina, e a confiança irrestrita nos Comandantes em todos os níveis”.

Senhor Ministro, a verdade não constitui, de maneira nenhuma, tentativa de fomentar a desavença e a desunião onde quer que seja. E a verdade é que, se não houver uma radical mudança de cenário, o general comandante do Exército mentiu para seus subordinados e para seu Comandante-em-Chefe (nº 1 do Art. 13 do Regulamento Disciplinar do Exército, transgressão gravíssima) e criou falsas expectativas no Povo Brasileiro na parte que lhe coube na declaração de 11/11/2022, juntamente com os Comandantes das outras Forças, onde dizem:

“Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história”, Senhor comandante do EB, qual seria esse “compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro”? Seria entrega lo ao comunismo? O senhor não escuta o clamor do povo? O senhor não o vê aglomerado em frente ao seu Quartel General? Nem mesmo o viu nem ouviu em frente ao condomínio onde mora? O senhor é moderador do que? E ousa afirmar que essa postura representa valores e tradições do Exército Jamais do Exército a que eu servi e sirvo.

As evidentes provas do golpe dado pelo STF/TSE criando um estado de exceção, o sequestro do direito de opinião e de nossa liberdade, a necessidade de compatriotas nossos de se exilarem, a existência em nosso País de prisioneiros políticos, as inconsistências no processo eleitoral e suas fraudes, e a recusa do TSE em prestar contas à sociedade sobre esse processo são verdades gritantes que dispensam qualquer esforço para serem percebidas, e são solenemente ignoradas pelo senhor, comandante. Afinal, o que significa Verdade para o senhor?

O Presidente da República, que durante sua primeira campanha foi esfaqueado no ventre por forças até hoje ocultas, sobreviveu para receber agora punhaladas nas costas, vindas daqueles dos quais ele é o Comandante-em-Chefe

Será isso a Lealdade de hoje em dia no EB?

Será que poderia ser considerado probo um militar que, à custa do sangue, suor e lágrimas do povo, dele receba abrigo, uniformes, educação, saúde, salários, mordomias como aditâncias, cursos e funções e no Brasil e no exterior etc. e que, ao atingir os mais altos cargos da instituição, quando pela primeira vez seja chamado a agir no teatro interno para vencer a ameaça comunista faça ouvidos moucos aos clamores do povo e se furte de fazê-lo? Onde a honestidade profissional, onde o cumprimento do dever, onde a Probidade?

Inúmeras leis constitucionais e infraconstitucionais apontam para a responsabilidade do EB na solução dos problemas que afligem a Nação neste momento. Ou o senhor, cujo Ministro fala “na atual crise que o País atravessa”, julga que ela não existe, que vivemos em um Estado Democrático de Direito? Por que o senhor não assume a Responsabilidade que lhe cabe?

Tenho razões para afirmar que a atitude do senhor está sendo recebida com a mais profunda vergonha no seio da tropa e entre nós veteranos, e “a confiança irrestrita nos comandantes de todos os níveis” a que seu Ministro se refere já não faz muito sentido. De onde seus comandados esperavam que viessem exemplos de bravura, patriotismo e cumprimento do dever só veio fraqueza, entreguismo e omissão. Sementes de insatisfação estão começando a brotar. O clima de 1964, que vivi e conheço bem, está voltando aos quartéis. Isso é muito sério e a culpa é sua.

Ainda há tempo, senhor comandante. Não permita que o Exército de Caxias, que o povo ama e respeita, se transforme em um exército de Calabar, que a Nação há de desprezar com repulsa.

O senhor está comandante do Exército, não é seu dono, e como tal não tem o direito de arrastar na lama as glórias que nós, os verdadeiros soldados de Caxias, levamos séculos para conquistar.

Ao povo brasileiro eu, envergonhado, peço perdão por essa pantomima de traições e covardias.

Lamento a decepção, os dias e noites passadas sob Sol ou chuva, a dedicação, a lealdade ao Presidente e a confiança nas Forças Armadas. Mas ela não é maior que a minha. Isso, porém, não é razão para que deixemos de lutar por nossa Pátria e defender nossos valores até o fim.

Esses cinquenta e tantos dias nos provaram que somos fortes e resilientes e que sabemos nos unir pelas grandes causas. Lutaremos sós se preciso for, mas nunca desistiremos do Brasil.

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Por Ney de Oliveira Waszak

Tenho a sorte de ser amigo do Cel Gobbo e com sua permissão acrescento que as atitudes do Ministro da Defesa e dos Comandantes Militares nos envergonham.